Ministro do STF concede liminar em ação impetrada pelos partidos PPS e PMDB
Por: Laryssa Borges, de Brasília
Ministro Gilmar Mendes em sessão plenária(Dorivan Marinho/SCO/STF/Divulgação)
O
ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu liminar em
ação impetrada pelos partidos PPS e PSDB para impedir a nomeação do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como ministro-chefe da Casa Civil do
governo Dilma Rousseff, e também devolveu a apreciação do seu caso à alçada do
juiz federal Sergio Moro, titular da Operação Lava Jato.
"Defiro a medida liminar,
para suspender a eficácia da nomeação de Luiz Inácio Lula da Silva para o cargo
de ministro-chefe da Casa Civil, determinando a manutenção da competência da
Justiça em primeira instância nos procedimentos criminais e cíveis", diz o
despacho do ministro.
Como
justificativa para a decisão, Gilmar Mendes traçou um paralelo com a decisão do
STF sobre o ex-deputado Natan Donadon, que renunciou ao seu assento na Câmara
para impedir o julgamento iminente de uma ação contra ele no STF, fazendo com
que o caso reiniciasse na primeira instância. Segundo o ministro, a situação de
Lula é inversa - sua nomeação como ministro levaria seu caso para a corte
superior - mas a finalidade de driblar a Justiça seria idêntica. A decisão cita
estudo do jurista Vladimir Passos de Freitas, cuja conclusão é a de que nomear
pessoa para lhe atribuir foro privilegiado é ato nulo.
Segundo
Mendes, a nomeação de Lula teria sido feita com "desvio de
finalidade": apesar de estar em aparente conformidade com as prerrogativas
que a presidente tem para escolher ministros, ela conduziria a "resultados
absolutamente incompatíveis" com a finalidade constitucional dessa
prerrogativa e por isso seria um ato ilícito.
"É
muito claro o tumulto causado ao progresso das investigações, pela mudança de
foro. E 'autoevidente' que o deslocamento da competência é forma de obstrução
ao progresso das medidas judiciais", afirma o juiz no despacho. "Não
se nega que as investigações e as medidas judiciais poderiam ser retomadas perante
o STF. Mas a retomada, no entanto, não seria sem atraso e desassossego. O tempo
de trâmite para o STF, análise pela PGR, seguida da análise pelo relator e,
eventualmente, pela respectiva Turma, poderia ser fatal para a colheita de
provas, além de adiar medidas cautelares."
O ministro
ainda se valeu se declarações feitas pelo ex-presidente Lula nos grampos
autorizados nas investigações da Operação Lava Jato para afirmar que havia
interesse do ex-presidente de transferir o caso para Brasília, já que ele
considera os tribunais superiores "acovardados" e condena a
"República de Curitiba". Os termos "acovardado" e
"República de Curitiba" foram utilizados pelo ex-presidente Lula em
conversa grampeada com a presidente Dilma Rousseff.
Posse - No
despacho que barra a nomeação de Lula para a Casa Civil, o ministro Gilmar
Mendes rebate ainda a tese de legalidade do termo de posse assinado pelo
petista, repassado por Dilma para que fosse preenchido "em caso de
necessidade". Segundo Mendes, "o documento seria uma reserva",
mas a legislação brasileira impede essa prática.
"Se
Luiz Inácio Lula da Silva não estivesse presente na cerimônia de posse, duas
consequências poderiam ocorrer: ou ele não tomaria posse - podendo fazê-lo a
qualquer momento, no intervalo de trinta dias contados da publicação da
nomeação - ou tomaria posse por procuração - caso enviasse mandatário com
poderes específicos", explicou. "Em nenhuma hipótese, a posse poderia
ocorrer pela aposição, pela presidente, de sua assinatura", completou o
ministro.
Segundo o
magistrado, a escolha do petista para o cargo de primeiro escalão no governo
tem claros indicativos de fraude e significam um "salvo-conduto"
conferido pela sucessora Dilma Rousseff para evitar que o padrinho político
possa eventualmente ser preso por conta das investigações da Operação Lava
Jato. As suspeitas que recaem contra Lula são de que recebeu benesses de
empreiteiras enroladas com o petrolão e ele ocultou o patrimônio, registrando
os bens em nome de prepostos.
Prisão - Com a
devolução da investigação contra Lula para Moro, não é improvável que o juiz
federal peça a prisão preventiva do ex-presidente nos próximos dias. Conforme
revelou na última quinta-feira acoluna Radar, de VEJA.com, o
Ministério Público Federal em Curitiba estava prestes a apresentar a denúncia e
o pedido de prisão preventiva do petista a Moro, quando o ex-presidente tomou
posse no Ministério da Casa Civil, em cerimônia realizada às pressas na manhã
de quinta, em Brasília. A fundamentação do pedido de prisão seriam as
tentativas de obstrução da Justiça evidenciadas pelos grampos feitos com
autorização judicial. A coluna informa que, assim como fora informado previamente
sobre o mandado de busca e apreensão em sua casa, Lula também sabia do pedido
de preventiva - daí a antecipação da posse no ministério do dia 22 para a
quinta-feira, dia 17.
Antes da
decisão de Gilmar Mendes, três liminares expedidas por juízes federais haviam
barrado a posse do ex-presidente. O governo recorreu ao Tribunal Regional
Federal e conseguiu suspender as duas primeiras liminares. Uma terceira, de São Paulo, foi
expedida logo em seguida. Diante da proliferação de pedidos semelhantes pelo
país, o advogado-geral da União, José Eduardo Cardoso, pediu que a análise do
tema se concentrasse no STF. Por sorteio, o caso foi encaminhado a Gilmar
Mendes - notoriamente crítico ao governo petista, como demonstrou mais uma vez
em sessão do Tribunal, nesta quarta-feira. A decisão liminar do ministro terá
de ser avaliada pelo plenário da corte.
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